Por Júlia Mariotti
“Um ponto importante em relação à empatia é que ela não é uma linha de chegada, mas sim um processo vivo e em constante transformação”, conta Fabiana Gutierrez, sócia-fundadora do Carlotas, empresa de propósito social que, por meio da arte, do diálogo e da ludicidade, busca expandir o entendimento sobre a potência da diversidade e do exercício da empatia e do respeito nas relações.

Ao buscar no Google o significado de empatia, muitos resultados para a palavra dirão que empatia é o ato de “se colocar no lugar do outro”. “No entanto, a real prática da empatia não é tão simplista assim. Exercitar a empatia é complexo, porque envolve estar disposto a se colocar em uma relação e, para isso, precisamos nos desarmar e nos colocar vulneráveis. Essa relação com o outro exige um olhar para dentro de nós e, assim, estarmos inteiros para o outro”, explica Fabiana.
É nesse contexto que vamos dialogar sobre empatia muito além da teoria. Abaixo, você vai acompanhar os benefícios da prática para a comunidade escolar e descobrir cinco atividades que podem ser facilmente aplicadas para estimular efetivamente esse conceito em sala de aula. Confira!
Uma nova perspectiva sobre empatia
“Uma pessoa que busca praticar a empatia está constantemente se questionando sobre as vivências subjetivas de outros seres humanos, buscando compreender suas dores, necessidades emocionais e, também, o que lhe traz prazer e satisfação”, afirma a sócia-fundadora do Carlotas.
Empatia é um conjunto de habilidades que precisam ser trabalhadas constantemente dentro de cada pessoa. É preciso aprender a escutar com atenção, buscar o autoconhecimento, aprender a reconhecer e a identificar emoções e potenciais fragilidades para acessar nossa humanidade e, assim, sermos capazes de respeitar a humanidade que existe no outro.
Para Fabiana, perceber o outro é também reconhecer seu próprio mundo afetivo. “Por isso, quanto maior for o nosso vocabulário emocional e o nosso autoconhecimento, mais facilidade teremos em acolhermos e nos conectarmos com outras pessoas”, diz.
Importância e benefícios no ambiente escolar
No geral, trazer as competências socioemocionais é de grande valia no desenvolvimento social e cognitivo das crianças. Através do desenvolvimento dessas competências, elas criam vínculos, relações mais sinceras e seguras e se sentem pertencentes. “Em um ambiente assim, as questões cognitivas têm mais chance de florescer e a criança e o jovem se sentem respeitados e seguros para expor suas dúvidas e mais relaxados para aprender”, afirma Fabiana.
A empatia se torna, assim, uma competência fundamental para a construção da cidadania. Praticar essa habilidade no ambiente escolar traz um círculo virtuoso de convites sucessivos para o acolhimento, entendimento e respeito.
“Não é só a relação estudante–professor que melhora, mas também as relações entre os funcionários da escola, pois a comunidade acaba entendendo que cada um desempenha um papel fundamental para que o aprendizado aconteça”, explica Fabiana.
Como trabalhar a empatia nas escolas
Assim como os músculos, que precisam ser usados para não atrofiar, a empatia é uma habilidade que precisa ser praticada para não enferrujar. Por isso, quanto maior o engajamento da comunidade escolar, mais a empatia se sobrepõe no ambiente.
Nesse sentido, para que o exercício da empatia seja efetivo na escola, ela não pode ser trabalhada isoladamente com os alunos ou em ações e projetos pontuais. É preciso haver uma mudança cultural e uma transformação de comportamento no ambiente, e isso só se constrói a longo prazo.
“Quando trabalhamos a empatia nas escolas, normalmente, trabalhamos com todos os educadores e uma determinada série de acordo com o alinhamento da coordenação. Ao fazer o trabalho com os educadores, conseguimos promover essa mudança de postura que começa a ser disseminada e implementada na escola”, afirma a sócia-fundadora do Carlotas.
Atividades práticas
Se o interesse é provocar proativamente alguma ação ou atividade na comunidade escolar, Fabiana sugere as seguintes atividades práticas:
- Mediação de histórias
Histórias são ótimos recursos para o desenvolvimento e fortalecimento da empatia. Através delas, ampliamos a capacidade imaginativa, conhecemos outras realidades e treinamos habilidades como escuta ativa, investigação amorosa, entre outros.
É uma ótima ferramenta de desconstrução de estereótipos e ampliação de repertório cultural!
- Jogos colaborativos
Os jogos mexem muito com o campo imaginário e ajudam a desenvolver habilidades. Jogos colaborativos, em especial, permitem que os participantes encontrem alternativas criativas para problemas complexos enquanto parte de um grupo. A ludicidade nos empresta um espaço seguro para testarmos novas formas de ser e pensar.
- Reconhecimento das emoções
Atividades que ajudam a reconhecer e nomear emoções são muito importantes na jornada de desenvolvimento da empatia.
Bons exemplos de atividades para esse propósito são: o Bingo das Emoções, mímica, compartilhamento de experiências e desenhos. Esses momentos de descontração ajudam a ampliar o repertório emocional dos estudantes.
- Experiências sensoriais
O jogo de aquecimento dos sentidos e outras atividades que experienciam sensações ajudam os estudantes a qualificarem a sua presença, o que irá aumentar a chance de estarem mais ativos, integrados e seguros no ambiente de convivência.
- Círculo de diálogos
Ensinar os estudantes a dialogar é um processo fundamental. Nos círculos de diálogos, os próprios jovens podem trazer assuntos do seu interesse e de forma organizada, estabelecendo combinados e acordos bem estruturados.
Além disso, podem conversar sobre preocupações, dúvidas e sugestões acerca de diversos temas. Nos círculos, eles aprendem que todas as vozes têm o mesmo valor e mesma importância e que é permitido discordar, desde que haja respeito.
Conquistas reais
Fabiana explica que, mesmo com cinco anos do Carlotas na estrada, desenvolvendo projetos sobre empatia, é muito difícil mensurar os impactos dessas ações. No entanto, as conquistas observadas são gratificantes.
“Muitos professores relatam que as atividades trouxeram maior consciência emocional para os alunos, o que gerou uma diminuição dos conflitos no dia a dia da sala de aula, assim como a formação de vínculos mais saudáveis”, conta.
Fabiana ainda diz que algumas escolas também apresentaram uma evolução positiva em relação à inclusão de pessoas com deficiência, onde a comunidade escolar se mostra mais aberta e empática para receber todas as famílias e alunos. Além disso, os estudantes costumam sinalizar que perceberam que a escola é um ambiente para aprender muito mais do que conteúdos pedagógicos, “é sobre convivência e aprender para a vida”.
Veja abaixo o manifesto pela empatia, realizado pelo Carlotas:
“A empatia é um processo lento e transversal. Acontece no dia a dia, nos detalhes e nas brechas. Mas, quando o clima melhora e a segurança emocional aumenta, é possível sentir que alcançar uma maneira humanizada de se fazer educação é uma realidade possível”, afirma a sócia-fundadora do Carlotas.