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A importância de praticar a escuta ativa com crianças e jovens

Entenda como a escuta ativa pode auxiliar no processo de aprendizagem e no relacionamento interpessoal da criança e do adolescente

Por Lucas Duarte

Em épocas em que tudo é novo, criam-se histórias, e com isso há a necessidade de ser escutado e compreendido pelas pessoas à sua volta. A criança ou o adolescente deposita nos pequenos, médios e grandes diálogos a sua compreensão do mundo. Para eles, tudo é novo e ao mesmo tempo tudo é passado.

O processo de assimilação dos acontecimentos externos é algo mágico e que precisa de acompanhamento. É por isso que a introdução da escuta ativa pode ajudar na construção de uma rotina saudável, envolvendo comunicação, respeito e diálogo.

O conceito de escuta ativa trabalha ferramentas que tornam a construção de um diálogo uma experiência proveitosa, única e que gera impacto no desenvolvimento da criança. Mais do que ouvir, devemos escutar o que os pequenos têm para nos dizer. A escuta ativa infantil trabalha o protagonismo da criança, os colocando como sujeitos únicos e não como uma extensão de alguém, e fornecendo, assim, a possibilidade de as crianças construírem suas próprias histórias narradas exclusivamente pelas suas próprias palavras.

Piaget, escuta ativa infantil e desenvolvimento

De acordo com o psicólogo, cientista e biólogo Jean Piaget (1896-1980), especializado no processo de aprendizagem infantil, existem quatro estágios básicos relacionados ao processo cognitivo da criança. Com isso, podemos criar um paralelo com a intenção de introduzir a escuta ativa infantil no desenvolvimento da criança; 

  • Sensório-motor: Acontece até os 2 anos de idade. A criança conquista a capacidade administrativa dos seus reflexos básicos, dando início a ações como, por exemplo, os movimentos das mãos sendo explorados e também a percepção comparativa da criança entre ela e o que a cerca.

Nesta fase anterior à linguagem, ainda não existe a concepção sobre o sentimento como resposta racional a algo, a criança apenas utiliza o seu emocional como resposta para as ações. 

  • Pré-operacional:  Acontece dos 2 aos 7 anos de idade. Esse período tem como característica o início das operações de domínio da linguagem através de associações entre nome, objeto e símbolo. A criança ainda é moralmente incapaz de lidar com o raciocínio que envolva empatia. Ou seja, colocar-se no lugar do outro. Nesse período, a escuta ativa pode ser introduzida como fortalecimento no incentivo a tentativas da formação de palavras protagonizadas pela criança, assim como ações e em seu desenvolvimento emocional.
  • Operações concretas: Acontece dos 7 aos 12 anos de idade. É marcada pelo período da busca pela independência nos processos de lógica. Nesse período as crianças aprendem a associar conceitos como tempo e número.

Fora isso, é o período em que a escuta ativa deve ser praticada com mais engajamento, já que será ela a responsável pela criação do elo comunicativo.

  • Operações formais: A partir dos 12 anos de idade. Essa fase prepara as crianças para o contato com o mundo adulto. A noção de responsabilidade é criada, e assim o adolescente passa a dominar pensamentos e ações lógicos, partindo da sua recém-adquirida inteligência emocional.

A escuta ativa, nessa fase, tem o papel de criar laços baseados em respeito e empatia nas relações que o adolescente irá desenvolver.

O acompanhamento no desenvolvimento emocional da criança pode ajudar no estímulo comunicativo em todo o processo de aprendizagem, desde o primeiro até o quarto estágio cognitivo da criança.

Podendo assim compreender com êxito o que se passa com cada criança a partir da linguagem usada no ato de se comunicar, e como lidar com as suas fases mais agitadas, principalmente quando ela enfrenta as dificuldades de lidar com o sentimento de algo que lhe é negado.

Um ponto forte e que pode significar sucesso na introdução da escuta ativa está em nos colocarmos como igual perante a criança como ser social, e no entendimento da sua necessidade de compreensão e atenção. Dessa maneira, podemos dialogar com os seus anseios, as suas frustrações e também as suas perspectivas, podendo assim, trazê-los para a realidade quando necessário. 

Ao abrir um canal e ceder espaço para que ela se expresse, o contato com a empatia pode acontecer de maneira mais direta. Podendo levar essa experiência adiante e criando um novo ciclo de respeito e empatia, praticando o conceito em diversas áreas da sua vida e no seu crescimento.

Hora de colocar a escuta ativa em prática!

Ao longo do texto explicamos sobre a importância e os impactos que uma boa comunicação pode ter no desenvolvimento da criança. Mas que tal colocarmos essas atitudes em prática? Separamos 4 passos que podem te ajudar  a introduzir a escuta ativa infantil na rotina da criança ou do adolescente. Então, mãos à obra;

  1. Seja compreensivo

Ao ser escolhido pela criança ou pelo adolescente como “confidente”, um voto de confiança é criado. Ela espera que você a escute, opine e seja compreensivo com o que ela deseja compartilhar. Por isso, a construção de um ambiente calmo, silencioso e confortável é fundamental. Escute tudo o que ela tem para dizer com atenção. Por mais pequeninas que sejam, as crianças notam a nossa falta de atenção direcionada a ela em determinadas situações. Isso pode acabar quebrando o elo de confiança que ela depositou em você.

  1. Seja criativo

Algumas crianças têm dificuldade em expressar a sua oralidade. Isso gera um sentimento de incapacidade, e acaba acumulando alguns sentimentos negativos nos pequenos. Que tal optar por desenhos como meio de comunicação e forma de linguagem para que ela expresse aquilo que ela tem para compartilhar? Mas cuidado, não devemos forçar uma interação. Tenha paciência quando propor atividades do tipo para que tudo aconteça de forma natural e confortável.

  1. Seja paciente

A paciência é a melhor aliada quando o assunto é criança. Um adulto paciente terá mais êxito em estabelecer um elo comunicativo, e com isso, a escuta ativa pode ser introduzida com mais facilidade. Em relação aos  adolescentes, forneça espaço e não faça pré-julgamentos. A adolescência é conhecida como o momento em que regras são quebradas e questionadas. Um adulto paciente saberá a hora de usar determinadas palavras e orientações caso seja necessário. 

  1. Respeite

O respeito deve ser um dos principais alicerces no decorrer da conversa, e também quando ela acaba. Nada de menosprezar acontecimentos pequenos compartilhados pelas crianças ou pelos adolescentes. Quando isso acontece, uma barreira é criada e um sentimento recheado de vergonha e medo se instaura. Apenas reflita e procure levantar questionamentos nessas pequenas ações compartilhadas. Às vezes as principais informações estão contidas nas entrelinhas.

Escutar e compreender não significa concordar com tudo. Saber impor limites através do diálogo racional serve como preparação para futuras situações adversas na vida da criança. Partindo de um bom diálogo, onde ambas as partes se escutam, argumentam e se preocupam um com o outro, a escuta ativa pode agir como mediador no processo de comunicação envolvendo decisões, fazendo com o que o desafio da contrariedade seja um gatilho para a criação de opiniões próprias e independentes. Esperamos que esse conteúdo tenha inspirado você, e que as sugestões e situações tornem-se um amparo na construção dos elos comunicativos entre pais e filhos. Apertem o cinto; próxima parada: diálogos mais saudáveis e benéficos para todos!