Por Chantal Brissac
À frente do Liberta, que busca combater o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes, Luciana Temer lançou recentemente a campanha #agoravcsabe, na qual busca romper o silêncio que perpetua a violência sexual no Brasil.
18 de maio marca o Dia Nacional de enfrentamento a Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, por isso Luciana, advogada e diretora do Instituto Liberta, criou uma passeata virtual para dar visibilidade para a causa neste dia. Os vídeos mostrarão vários relatos de pessoas maiores de 18 anos que foram vítimas de violência sexual quando crianças.
Luciana clama por uma política pública de educação para enfrentar esse mal que é uma verdadeira epidemia no Brasil. Em 2020 e 2021, mais de 60% de todos os estupros no país foram contra crianças e adolescentes. “Quero fazer o país inteiro falar sobre esse tema, estimulando a criação de políticas públicas. É um caminho que será construído a partir de um processo de conscientização da sociedade. Sem isso, a gente não vai enfrentar esse problema”.

Segundo ela, o Brasil tem 500 mil casos de exploração sexual infantil por ano, o que faz do país o segundo que mais prostitui suas meninas, depois da Tailândia. No entanto, apenas 10% dos casos são notificados. E muitas vezes a vítima é culpabilizada. “A gente não pode se calar. O abuso e a exploração sexual infantil são coisas distintas, mas estão intimamente conectadas. E ambos são abafados pelo silêncio, que precisamos quebrar”. Ela lembra que mais de 70% das violências acontecem dentro de casa. “E com abusadores de todas as classes sociais”.
Outras ações e campanhas importantes já foram lançadas pelo Instituto Liberta, com o objetivo de chamar a atenção da sociedade, tirá-la desse silêncio que só protege os criminosos. No final de 2020, o Liberta distribuiu milhares de máscaras bordadas com a mensagem #nãosecale. O intuito foi conscientizar e estabelecer uma rede de comunicação para que crianças e adolescentes falem sobre exploração sexual e possam pedir ajuda em casos de violência.
Também foi lançado o documentário “Um Crime Entre Nós”, produzido pelos institutos Liberta e Alana e pela Maria Farinha Filmes, que mostra a naturalização dessa violência no Brasil. Dirigido por Adriana Yañez, conta com a participação de personalidades como o médico Drauzio Varella, a youtuber Jout Jout e o apresentador Luciano Huck, e está disponível gratuitamente na plataforma Videocamp.

Para Luciana, o encarceramento dos criminosos é essencial, mas a solução é a educação. “Essa epidemia decorre de uma cultura machista e que objetifica o corpo da mulher e da menina. Estamos falando de uma mudança de cultura com as novas gerações, para formar pessoas mais empáticas e respeitadoras, e isso tem que acontecer na escola e nas famílias”.
Ela frisa a importância de falar nas escolas sobre violência sexual e sexualidade, e destaca um dado científico: “O Reino Unido adotou há alguns anos uma política pública em que as escolas têm a obrigatoriedade de tratar do assunto, discutindo de acordo com a faixa etária do aluno, e as evidências mostram os benefícios. Desde a medida preventiva, para a criança entender o que acontece, se proteger e denunciar, até o fato de os jovens começarem sua vida sexual mais tarde. É uma hipocrisia pensar que falar sobre o tema nas escolas incentiva a prática sexual, é exatamente o contrário. Enquanto não tivermos um espaço de escuta e conversa vamos ter consequências sociais seríssimas. A gente tem que assumir a nossa responsabilidade”.